De acordo com a disciplina Diversidade e Cultura Inclusiva, do curso REDEFOR Educação Especial e Inclusiva, realizado pela UNESP. Escolhi dentre os blogs sugeridos um em espanhol, chamado Atención a la diversidad e inclusión. Nele me chamou atenção um artigo intitulado: “La Educación personalizada como
herramienta imprescindible para atender la Diversidad en el Aula” escrito por Alba García, o qual trata da inclusão
educativa. Logo, o mesmo aborda um tema do nosso interesse e que vale a
pena compartilhar alguns trechos interessantes aqui no blog.
O texto original
encontra-se em espanhol, porém o traduzi ao português para facilitar a
compreensão e interação de colegas e visitantes desse blog.
[...]
4. A inclusão educativa
Entre os princípios gerais da Convenção Internacional
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência se encontram a igualdade de
oportunidades e a acessibilidade; a participação e inclusão plena e efetiva na
sociedade; a não discriminação e o respeito pela diferença, entre a qual se
encontra o respeito pela evolução das faculdades das crianças com diversidade
funcional; a aceitação destas pessoas como parte da riqueza e condição humanas;
assim com o respeito a sua dignidade, autonomia individual, e independência (UN,
2006; Art. 3).
Todos estes aspectos, que
deveriam ser inerentes a qualquer sistema educativo e precisamente impensável o
fato de vulnerá-los, resultam ser, porém, excepcionais em nossas escolas.
O movimento de inclusão educativa
vem a juntar todos estes direitos, descritos com frequência por especialistas e
profissionais do ensino como difícil avance, como uma utopia tendo em conta
situação da qual partimos. Y é certo que é necessário romper barreiras
(físicas, mentais, conceituais, sociais), porém também não se trata de uma mera
convecção social nem de uma tendência passageira. Os princípios gerais marcados
pelas Nações Unidas têm de ser a base na qual todo sistema educativo deve
sustentar-se.
Em definitiva, as escolas
inclusivas são aquelas que desenvolvem metodologias e técnicas docentes que
ajudam a oferecer uma adequada resposta as características individuais de todos
os alunos, se baseando precisamente em suas diferenças e destacando sua
igualdade. Assim, recusam o enfoque educativo tradicional baseado na
homogeneidade e que beneficia tão somente a uns poucos estudantes. Este tipo de
centros educativos são escolas para todos, onde cada aluno, independentemente
de suas dificuldades, tem espaço e receberá a atenção educativa que merecem
como pessoas com iguais direitos. Assim favorecem o desenvolvimento de atitudes
de respeito e valorização das diferenças, que constituem a base para a
construção de uma sociedade mais justa e imparcial.
Santos Guerra (2006) ilustra bem este significado através de uma fábula
que faz alusão direta à escola para todos, a escola inclusiva. Nela, conta que
uma vez os animais de um bosque decidiram criar uma escola na qual o currículo
consistia em correr, escalar, nadar e voar, devendo todos os alunos-animais
realizar a cada uma delas. O pato era um estudante excelente em natação,
inclusive superior ao seu professor, porém em voo tirou nota vermelha e na
corrida ficou de recuperação, tendo que ficar para praticar depois da aula e
abandonar a natação. Com o tempo, seus pés membranosos se desgastaram de tanto
correr e passou a ser um aluno medíocre em natação. Porém a velocidade era
aceita na escola e ninguém se preocupou com o fato, exceto, naturalmente o
pato. Neste mesmo âmbito a lebre era um estudante nota dez, porém sofreu um
colapso nervoso por realizar exercitações em natação. Por sua parte, o esquilo
se destacava em escalar, até que apresentou um quadro de frustação na
disciplina de voo, na qual seu professor lhe obrigava a começar desde o chão,
em vez de fazê-lo desde a copa de uma árvore.
Assim, e devido ao esforço em excesso, ficou doente de câimbras e a sua
nota em escalada foi 6 e com 4 em corrida. Nesta matéria de escalada quem se
destacou era a águia, que recebeu más notas em conduta por teimar em subir até
em cima da árvore a sua maneira e lhe tacharam de aluna problemática.
Ao chegar o fim do curso, a águia, que sabia correr, escalar e voar
levemente, e nadava de forma extraordinária, obteve notas altas e a medalha de
melhor estudante.
Quem não teve em sua turma um pato, uma águia, uma lebre. O raro é
encontrar com uma águia. O aluno nota dez, não existe, pelo que não podemos
dedicar nossos esforços a trabalhar para “a média” da sala, nem fácil nem
difícil, nem autônomo nem cooperativo... Não pode existir “café para todos”.
Porém, isto é que sucede, por infelicidade, na maioria das escolas, onde, como
bem indica esse autor, “se tem vivido a diferença como uma cicatriz, não como
um valor. Tem buscado a homogeneidade como uma meta e, ao mesmo tempo, como um
caminho. Os mesmos conteúdos para todos, as mesmas explicações para todos, as
mesmas avaliações para todos, as mesmas normas para todos. Curiosamente, se
buscava na justiça o fundamento dessa uniformidade. “Sem cair na conta de que
há maior injustiça que exigir o mesmo a quem são tão diferentes” (Santos
Guerra, 2006: 10).
Se não tomamos as medidas oportunas, se não fazemos uma escola para
todos, onde exista uma igualdade de oportunidades efetiva e se repetem as
diferenças, entendendo-as como uma riqueza e não como um lastre ou um aspecto a
ser evitado, o pato se amargará na escola, desnaturalizando-se, nadando pior,
comparando-se com os que escalam e voam, sentindo-se infeliz e aprendendo inclusive
em ridicularizar a aqueles que nadam pior que ele. O pato, em definitiva, se converterá
em uma vítima destinada a viver sobre as atitudes de lástima e discriminação
típicas da sociedade o dilema das diferenças.
5. O dilema das
diferenças
Se seguirmos este exemplo, fica
claro que devemos tomar as diferenças como uma riqueza e dirigirmos em direção
a uma cultura da diversidade que não consista no domínio das culturas
minoritárias às condições que lhes imponha a cultura hegemônica, obrigando-as integrar-se
baixo um prisma baseado na tirania da normalidade (López Melero, 2001). É que necessário
lutar ao lado contrário, e exigir que seja a sociedade que modifique por
completo seus comportamentos e atitudes em relação as pessoas com diversidade
funcional, perseguindo uma verdadeira cultura da diversidade que entenda esta desde
sua vertente mais positiva e enriquecedora.
Assim, podemos falar do dilema das diferenças individuais, vinculado à
valorização que fazemos da diversidade humana (diferenças de gênero,
capacidade, procedência, identidade, culturas, classe social etc.) e ao fato de
tratar de oferecer a todo o alunado uma igualdade de oportunidades efetiva em
sua aprendizagem e em sua participação escolar, como uma educação de qualidade
dentro de um marco comum, inclusivo e compreensivo (ITE, 2009).
Segundo certos autores, avançar
em direção uma resposta educativa de qualidade para todos os alunos supõe por
em ação os princípios da educação inclusiva, procurando analisar e compreender
os dilemas que esta oferece. Entre eles, cabe destacar que os sistemas
educativos se encontram sujeitos a um dobro e contraditória exigência, baseada
na necessidade de oferecer uma educação comum para todos os alunos e, ao mesmo
tempo, reconhecer suas necessidades individuais de aprendizagem e ser capazes
de ajustar-se a elas de uma forma apropriada (López, Echeita y Martín, 2010).
Oferece uma resposta educativa
que se adapte as diferenças individuais supõe em si mesma um dilema, já que
para leva-la adiante é necessário fazer uso de determinadas alternativas no
currículo (que não escolher um currículo alternativo) e fomentar uma série de
experiências e metodologias que se adequam a elas, diferindo do marco
curricular comum, porém a sua vez entroncando-se nele para guiar-se pelos
princípios de inclusão e igualdade de oportunidades.
Como bem define Marchesi, o
objetivo principal não consiste já em “fazer possível que os alunos ‘diferentes’
acedam ao currículo estabelecido para a maioria dos alunos, mas sim voltar a
pensar o currículo estabelecido para assegurar uma maior igualdade entre todos
eles e o respeito a suas características próprias” (2001:150).
Pujolàs (2004) o refletia muito bem com sua parábola do convidado a
jantar, na qual conta como uma professora de pedagogia, falando com seus
alunos, comparou a um professor com um homem de uma cidade que uma vez se
encontrou com um velho amigo ao que não via há muito tempo, e que, como tinha
previsto celebrar um jantar ao dia seguinte com um grupo de amigos que tão pouco
sabiam nada dele já fazia muitos anos, o convidou a jantar. Como o homem era um
grande cozinheiro, lhes preparou uma janta esplêndida, mas logo se deu conta de
que seu velho amigo tinha que ter muito cuidado com o que comia e que, seguramente,
não podia comer nada do que tinha preparado com tanto esmero. Telefonou-lhe em
seguida, explicando-lhe o sucedido e dizendo-lhe que lamentava muito, porém que
o melhor seria que não fosse ao fosse ao jantar e eu já se veria quando
celebrasse outro. Naquela mesma cidade, outro homem se viu com o mesmo
problema. Tinha preparado um jantar maravilhoso para seus companheiros e tinha
convidado a um antigo amigo conhecido de todos com o que havia se encontrado
dias antes. Tudo ia bem até que um de seus companheiros lembrou-se que este
velho amigo não podia comer de tudo. O homem, que tinha se esquecido por
completo disso, correu e ligou para seu amigo para pergunta-lhe se seguia tendo
o mesmo problema com a comida e dizer-lhe que não se preocupasse e viesse de
todos modos, já que ele lhe prepararia algo diferente. Curiosamente, a um
terceiro homem da mesma cidade também lhe sucedeu o mesmo, e quando já tinha tudo
a pronto para a janta, se lembrou de que seu velho amigo tinha que seguir uma
dieta restrita. Então com toda a pressa e, sem dizer nada a ninguém, guardou no
congelador todo o que havia preparado, e trocou o cardápio de forma que todos pudessem
comer o mesmo. Depois de contar essa historia, a professora de pedagogia da
parábola perguntou a seus alunos qual destes três comensais de última hora
devia sentir mais cômodo e incluso no jantar, respondendo estes sem duvidar que
o terceiro. Assim, aproveitou para explicar-lhes que “uma escola seletiva só
quer que aqueles discípulos que pode comer cardápio que tem preparado de
antemão: um currículo prefixado. Por outro lado, uma escola inclusiva é muito
diferente. Nem se que se conforma com preparar um cardápio especial- um
currículo adaptado- para um estudante que tem problemas para comer o cardápio
geral, é dizer, o currículo ordinário, gera. Uma escola inclusiva é aquela que
adequa o cardápio geral para que todo o mundo possa comê-lo, para que seja um
currículo comum” (Pujolàs, 2004: 16-17).
Quando eu mesma utilizei esta parábola na aula para debater com meus
alunos sobre o processo de inclusão educativa, expliquei aos estudantes que o
primeiro comensal, a quem convidam a não compareceu ao jantar com os seus demais
companheiros, podia ser comparado ao sistema da Educação especial; o segundo
caso, no que o comensal come algo distinto ao resto, podia comparar-se ao
processo de integração, e inclusive se fosse sentado em uma mesa à parte para
que seus alimentos não se contaminassem com os dos outros, podia assemelhar-se
às aulas de educação compensatória; enquanto que no terceiro exemplo, no qual
todos podem comer o mesmo sem nenhuma diferença evidente, se poderia identificar
como a educação inclusiva. Porém, como bem indica esta parábola, não se trata
de atender-lhes individualmente afastando-lhes do resto de seus companheiros,
nem de tratar-lhes de forma diferente aos demais. Ainda que seja uma opção
muito mais complexa de levar adiante devido as medidas econômicas e formativas
que comporta, é a que implica uma verdadeira justiça social na aula, supondo
uma inclusão e igualdade de oportunidades efetivas. Assim, uma escola inclusiva
deve ser capaz, toda ela (estrutural, espacial, metodológica, legislativa e
curricular; moral, ética e pessoalmente; a nível macro e micro; a nível de valores,
de compreensão, de execução, de planejamento, de avaliação de recursos; de
mudanças e melhoras; etc.), de adaptar-se às necessidades de CADA menino e CADA
menina, enquanto pessoas com sua plena dignidade e direitos.
[...]
7. Plano universal de aprendizagem
[...] é necessário elaborar um Plano Universal de Aprendizagem no qual
o currículo se encontre intencionalmente e sistematicamente planejado desde o
início para tratar de satisfazer as diferenças individuais. Os avances tidos
tanto em tecnologia como nas ciências da aprendizagem tem feito possível que o
currículo possa de maneira mais fácil e efetiva na prática, adequando-se às
necessidades de cada um dos alunos, respondendo, por tanto, à diversidade
existente na aula.
Para isso, o Plano Universal da Aprendizagem teria em conta três princípios
orientadores da prática educativa para fazer acessível o currículo a todos os
alunos (CAST, 2008):
• Principio 1:
(que aprendemos). Proporcionar múltiplos meios de representação para dar
resposta aos diferentes modos em que os alunos percebem e compreendem a
informação que se lhes presenta, oferecendo distintos canais de percepção
(auditiva, visual, motriz…) y proporcionando a informação em um formato que
permita ser ajustado o mais possível pelo aluno (texto que possa aumentar ou
ser executado de forma audível, sons que possam amplificar-se, etc.).
• Principio 2: (como
aprendemos). Proporcionar múltiplos meios para ação e a expressão com o
fim de responder as diferentes formas em que os estudantes aprendem, tem acesso
ao conhecimento e expressam o que sabem. Resulta necessário oferecer variadas
opções para a ação física (por meio de materiais com os que todos os alunos
possam interagir e que tenham em conta os meios para a comunicação, as
ferramentas para a composição e para a solução de problemas e a estrutura de
prática e o funcionamento) e procurar opções para as funções executivas
(através da estimulação do esforço, do interesse e da motivação em direção a
uma meta, guiando o estabelecimento efetivo de objetivos, que apoiem o planejamento
e as estratégias de desenvolvimento, que facilitem a gestão da formação e os
recursos, e que melhorem a capacidade de seguimento dos progressos).
• Principio 3: (por que aprendemos). Proporcionar múltiplos meios que
correspondam aos diferentes modos em que os alunos se sentem implicados, interessados
e motivados pela aprendizagem, oferecendo um leque de estratégias e alternativas
suficiente para provocar interesse (que aumente a eleição individual e a
autonomia, que ressaltem a pertinência, o
valor e a autenticidade, e que reduzam as ameaças e as distrações), para
sustentar o esforço e a constância (que aumentem a importância das metas e
objetivos, que variem os níveis de desafio e de apoio, que fomentem a colaboração
e a comunicação, e que ampliem a avaliação e retroalimentação formativa), e
para a auto regulação ( que orientem o estabelecimento de objetivos pessoais e
expectativas, que apoiem a tarefa frente às estratégias de afrontamento, e que
desenvolvam a auto avaliação e a reflexão).
Em definitiva, o Plano Universal de Aprendizagem se adeque ao objetivo
que explica Marchesi
(2001), anteriormente citado, e que guarda uma estreita relação com a
educação personalizada: nossa meta não deve ser conseguir que os alunos com
necessidades específicas de apoio possa ter acesso ao currículo oficial, mas
sim repensar esse currículo para oferecer uma resposta adequada às necessidades
educativas de cada um dos nossos alunos, respeitando em todo momento seus gostos,
interesses, desejos e sua própria identidade.